11/11/2020

Fim da novela (por enquanto)

Bom, faz cinco meses que escrevi pela última vez aqui, e tinha prometido que só voltaria a falar do assunto quando houvesse algo realmente relevante, e esse dia chegou

Durante esses seis meses assistimos a várias idas e vindas, participei de uma live que teve convidados o autor do SOS Floresta do Camboatá e um amigo de longa data que não via há algum tempo, e ele revelou ser amigo pessoal do atual presidente da república (no minúsculo mesmo).

Isso explicava a insistência com que vários atores políticos, primeiro o prefeito e depois o governador afastado, se empenharam em fazer a proposta (absurda) do autódromo ir para a frente, além dos interesses obscuros, estava claro que o lugar era totalmente inapropriado, bem como o momento econômico e social que estamos passando.

Isso foi lá começo do atual governo (estadual e federal), dois anos atormentando nossas cabeças com uma proposta descabida diante do cenário que estamos vivendo.

Aos poucos o véu foi se descortinando, primeiro com o Rubem Berta com uma matéria explosiva contando os descaminhos do dinheiro da empresa empreendedora do projeto.

Aos poucos as informações vinham chegando e cada vez mais nebulosas, no início de 2020 a Globo, através do seu braço de canal pago, SPORTV, anunciava o fim da cobertura da motovelocidade no canal, o que pegou todos de surpresa.

Surpresa que não foi maior quando a RioMotorSport se apresentou como detentora dos direitos de transmissão e apresentou a rede FoxSports como emissora oficial da categoria para o Brasil.

A FoxSports rapidamente se adequou, aumentando sua equipe, e com muita competência tocou o barco, transmitindo as corridas, mas alguma coisa aconteceu no meio do caminho que quase pôs tudo a perder.

Primeiro, a Fox passa por um processo de transição delicado, a Disney comprou a empresa nos EUA, e lógico, todas as suas afiliadas, e ela já possui um canal de esportes, a ESPN, pela lei ela só poderia ter um canal e vender o outro, mas mesmo assim, com autorização do CADE, continua operando as duas empresas no país.

A Disney repassou o valor das cotas de transmissão à detentora dos direitos de transmissão para que ela  pagasse à DORNA, mas isso não foi feito, colocando em risco a continuidade da transmissão da temporada com um forte prejuízo à imagem emissora, o que obrigou a Disney a assinar um contrato de seis anos de exclusividade de transmissão para "cobrir" o prejuízo causado pelo calote.

Na mesma ocasião estava em jogo a audiência virtual que tinha sido desmarcada duas vezes, por conta da pandemia, e que foi literalmente empurrada para ser feita às pressas depois de um decreto do governador (agora afastado) Witzel. 

A audiência durou horas, as prerrogativas apresentadas pelo consórcio foram vagas e imprecisas, milhares de empregos, milhões de dólares, milhões de turistas, pareciam que estavam vendendo um bonde pra mineiro, mas a coisa não é bem assim.

Um dos promotores, na sua argumentação, falou que, primeiro, a empresa não era dona do terreno, quem era o proprietário de fato e de direito era o EB, e que só haveria o repasse à União quando fossem transferidos cerca de 300 milhões de reais (que era a quantia que tinha sido estipulada lá atrás como a verba para a construção do autódromo), e isso só ocorreria se todos os documentos fossem aprovados e dentro do prazo legal, o que estava muito longe de ser verdade, como se anunciava.

Naquela mesma semana eu conversei com o Roberto Kaz, jornalista da Piauí, que tinha participado com outro jornalista numa live que o Flávio Gomes, do site Grande Prêmio, realizou ás vésperas da audiência, e ele me passou informações mais graves ainda sobre a situação do dono da Rio Motor Sports. 

Com tudo isso, fiquei de certa forma "tranquilo" em relação ao desfecho dessa novela, poderiam até mesmo mover mundos e fundos para conseguir construir o autódromo, mas será que o preço valeria a pena, e o pior, daria para ressarcir todos os envolvidos na empreitada?

O golpe final veio logo depois com o anúncio que a RioMotorSports estava com os direitos de transmissão e que estava negociando uma nova emissora.

Bom, pensei, agora era certo, com a F1 as portas e as pernas se abririam para o que eles quisessem, afinal brasileiro "adora" F1 (não obstante os cada vez mais baixos índices de audiência da TV aberta), e com o governo federal diretamente interessado em uma agenda positiva, fiquei apreensivo.

Mas no mundo dos negócios o que manda o é o dinheiro, não adianta ter boa aparência ou amigos influentes, o que faz a roda girar é o dinheiro no caixa, e hoje a roda girou, não para quem se imaginava.

A Liberty Media aceitou a proposta da RioMotorSports por um contrato de cinco anos, mas tal como na MotoGP, a empresa iria apenas repassar os direitos a quem fosse realmente transmitir o evento, pegando na transação sua parte como intermediária, só que aqui no Brasil só tem uma emissora capaz de fazer esse trabalho, e essa empresa se chama Globo, tanto é que, depois do CEO da Liberty Media, Chase Carey ter feito até lobby pelo autódromo de Deodoro com direito a uma carta endereçada ao governador interino Claudio Castro, voltou atrás e procurou a SP Turis, administradora de Interlagos e pediu que chamassem a Globo para negociar.

Ao fim e ao cabo a novela F1 no Rio de Janeiro acaba aqui, mesmo que a Globo assine, ou não assine, ou a Liberty faça um pool de emissoras ou transmita tudo pelo seu canal F1 Channel, o importante que o lobby pelo autódromo em Deodoro encerrou definitivamente com essa situação.

Se a RioMotorSports vai continuar existindo eu não sei, se continuar, acho muito difícil que ainda tenham como objetivo construir algo no Camboatá, o destino daquele lugar é virar um centro de pesquisas de flora e fauna e, talvez, um parque ecológico.

Quanto a um autódromo na cidade do Rio de Janeiro eu a cada dia acho mais difícil, além do custo de se construir uma pista, o metro quadrado na cidade encareceu absurdamente por conta da especulação imobiliária em torno dos grandes eventos, o Parque Olímpico segue abandonado, sem dono, mas vários "donos" se agarram a ele como uma tábua de salvação, ou melhor, garantia de receber um dinheiro o qual não merecem ou não fizeram por onde merecer, enfim, quem tem que cuidar disso é o MP, o que aconteceu em Jacarepaguá, que, hoje, faz oito anos, foi um crime contra o erário público, e que tentam a todo custo esconder, fazendo pirotecnias midiáticas e contábeis, mas uma hora a conta vai chegar.

A opção viável seria reconstruir a pista dentro do terreno do Parque Olímpico, ao estilo Sochi, para, ao menos, receber categorias Master como a Stock Car ou a Endurance Brasil, mas quem aceitaria o barulho dos carros? Mesmo se tomando as medidas necessárias para reduzir os decibéis dos motores. Claro que é hipocrisia, porque eles aturam o Rock In Rio durante noites inteiras e não reclamam e nem impedem que aconteça.

Agora, uma pista no estado pode ser que aconteça, surgiu essa semana uma proposta para a construção de um autódromo em Cabo Frio,  o que me parece bem realista, desde que os empreendedores não venham com essa história de F1, isso é igual pote ouro no fim do arco-íris, se realmente fecharem com SP, a F1 só sai de lá na próxima década.

Se a coisa for séria e bem fundamentada, pode ser uma opção com o autódromo Potenza em Lima Duarte, para se formar um complexo de autódromos no sudeste, somando com o Curvelo e Velocità, para receber provas regionais e nacionais, deixando para Interlagos a honra de sediar a F1.

De resto vamos aguardar o próximo capítulo dessa saga, por hora poderemos descansar quanto ao futuro da Floresta do Camboatá, acredito que agora eles irão desistir dessa empreitada e partir para algo mais viável e menos polêmico.

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