Esse post vai ao ar uma semana após a prisão do Sr. Carlos
Arthur Nuzmann, a acusação do juiz Marcelo Bretas é de que ele,e seu braço
direito, Marcelo Gryner, teriam subornado autoridades esportivas para conseguir
os votos necessários à realização dos
Jogos olímpicos no Rio de Janeiro.
No momento que escrevo, ele deve estar saindo pela porta da
frente do presídio de Benfica, onde se encontram outros presos de várias
investigações da PF, amparado por um Habeas Corpus expedido pelo STJ, e com a
proibição de sair do país.
Não sei se isso significa algo, a prisão de Nuzmann e de
Gryner apenas confirmaram aquilo que suspeitávamos desde 2012, essa prisão veio
mais como uma tentativa do judiciário de prestar contas à sociedade. Se
tivessem nos escutado quando começamos a questionar em 2004 que culminou na
ação na justiça no ano seguinte, quando os pilotos fizeram uma ação contra o
então prefeito Cesar Maia, contra o uso do terreno do autódromo para realização
do Pan 2007, talvez nada disso teria acontecido, ou teria sido de forma
diferente, mas ainda teríamos a pista, pelo menos.
É fato que o presidente do COB tem poderosas ligações com
membros do executivo, legislativo e judiciário, com a conivência destes foram
cometidos uma série de crimes de toda ordem, crimes esses que a maior parte
continuará impune e, futuramente, prescrita. Para quem tem tanto poder e influência
era questão de tempo para uma caneta amiga assinar um documento para que ficasse
em liberdade.
Porque esse pessimismo diante de algo que deveria ser
comemorado? É porque agora não adianta nada. O estrago foi feito, não só a
questão da pista, mas os precedentes que abriu na administração pública, em
nome dos grandes eventos (não esqueçamos da Copa e suas inúteis sedes padrão
FIFA) gastou-se dinheiro a rodo, criou-se uma falsa prosperidade a reboque de
obras superfaturadas e com data certa de entrega, milhões de brasileiros se
iludiram com a promessa de lucro fácil e abundância de recursos,e hoje acabamos
na mão de um governo que finge que foge da justiça fazendo concessões de toda a
sorte para se safar, enquanto magistrados entogados na Corte decidem quem deve ou não ser preso.
Tudo isso é uma grande hipocrisia, prender Nuzmann não resolve
nada, ele sequer deixou a presidência do COB, talvez perca algum prestígio no
COI, mas nada que vá deixá-lo sem sono, as barras de ouro encontradas na Suíça,
independente de sua origem, não coadunam com os vencimentos de uma autoridade
de uma instituição sem fins lucrativos, mas nada comparado aos rendimentos
extraordinários que uma Oderbretch ou o patrimônio do Sr. Arthur, ou do Sr.
Skin, e tantos outros empresários que surfaram a onda dos grandes investimentos
superfaturados em nome dos eventos.
O Brasil atropelou sua história, e seu futuro é nebuloso, o
que vemos à frente é um grupo de clowns brincando de política, ano que vem é
eleição, temos um cenário caótico que vai de lideranças neopentecostais a ex-querda
lulista , nenhuma delas com solução para o país, apenas com projetos de poder,
e é claro, quando mais o povo estiver na pior, melhor pra eles, porque um povo
desesperado, ainda mais o brasileiro, sebastianista e crédulo como o nosso,
embarca em qualquer canoa furada que aparece.
Não estamos condenados a danação eterna por estarmos nas
mãos dessas pessoas, na verdade eu acredito que uma vez exposto à luz da
verdade, as pessoas mostram o que são, e a partir daí você tem que tomar um
lado, ou apóia um escroque ou se volta contra ele, a questão é: quem apoiar?
A destruição da imagem de Nuzmann é conveniente para muita
gente que o usou por muito tempo, e ele sabe disso, que em algum momento seria
descartado em nome de alguém mais novo ou porque o modelo de investimento
acabou, estamos vivendo um momento semelhante ao pós Copa de 1950, o país só
conseguiu formar um time bom em 1958, antes disso nem se falava em futebol,
agora imaginem o que acontece com o esporte brasileiro depois de dois fiascos
simultâneos em menos de dois anos?
Claro que não se queria isso, do ponto de vista da festa,
mas esporte profissional é tudo, menos competição esportiva, é bussines, é política,
e tudo mais o que vocês podem imaginar,logo, não poderia se esperar outro
resultado além do 7X1 da Alemanha e do desempenho pífio dos atletas brasileiros
no Jogos.
Podem vir argumentar o que quiserem, o Brasil mal e mal tem
tradição esportiva, alguma coisa no volei, futebol, basquete, e acabou, a
ginástica olímpica pena pra se classificar bem nos eventos, a natação se vale
de um ou outro atleta que ganha bolsa de estudos no exterior para nadar por
alguma universidade, somos patéticos como potência esportiva, poderíamos ser
muito mais do que somos se houvesse um projeto sério esporte nas escolas
públicas, principalmente na periferia,mas esbarramos na falta crônica de
interesse recursos humanos e materiais, e principalmente, na cretinice dos
governantes que só olham pro esporte como moeda política na hora de pedir
votos.
A culpa é de quem? Ora meus amigos, quem esteve à frente do
COB durante 22 anos? Quem fechou os olhos à realidade do país e preferiu se
refestelar nas poltronas de primeira classe a caminho dos regabofes
internacionais bancados por outros líderes similares a ele? Claro, nem, poderia
ser diferente, já que são todos feitos do mesmo estofo, hipócritas, vazios,
venais, exploram os atletas como o novo gado, o novo escravo do século XXI, os
novos gladiadores que irão entreter a arena formada por bilhões de pessoas
sedentariamente sentadas em sofás ao redor do mundo em frente aos seus
televisores, torcendo pela atleta de pernas bonitas ou ao deus negro que corre
mais rápido que o vento, mas a maioria não tem a pálida idéia do que esses
atletas passam para chegar onde chegaram.
Ao fim e ao cabo, preso ou solto, indiciado ou não, o Sr.
Nuzmann é página virada da história, a folha seguinte está em branco, talvez
nem seja escrita, talvez seja usada para outros fins. Não importa, daqui pra
frente para se falar de esporte olímpico no Brasil primeiro terá que se passar
a limpo tudo o que aconteceu nos últimos trinta anos , e posso garantir, isso
está muito longe de começar a acontecer.
Quanto ao automobilismo, vai bem obrigado, aqui vem
sobrevivendo como dá, como pode, praticamente desaparecido da TV aberta, sem
divulgação, vivendo do, pelo e para o nicho de seus seguidores, mais nada. E a
julgar pelo cenário internacional, em mais umas duas décadas será algo parecido
como a corrida Londres-Brighton, uma curiosa diversão de ricos com seus
veículos engraçados e barulhentos .
Ah sim, a F1, Indy, esqueçam, o Brasil queimou seu último
cartucho com a geração de Massa, Castro Neves e Kanaam, agora, só um milagre
coloca o Brasil de novo no grid dessas categorias com alguma chance de não ser
apenas um mero coadjuvante, temos boas promessas, mas o esporte, ainda mais o
automobilismo é um bussiness pesado, precisa de dinheiro, coisa que anda em
falta por aqui.
Gostaria de estar menos amargo, mas tenho que ser realista
para não me iludir, não há nenhuma promessa de remissão, apenas uma punição
rasa, uma execração pública meia-boca e alguns milhões aguardando em segurança
os dias de liberdade, nada mais, pra todos eles, e nós continuaremos aqui,
vivendo de lembrar do passado, umas das poucas coisas que a internet nos permite,
ter acesso a imagens e memórias dos tempos de glória.
Há futuro, sim, mas ele tem que ser construído hoje, com
atos, não com promessas vazias, porque senão continuará apenas sendo um futuro
sem dia e hora pra acontecer.
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